domingo, 30 de novembro de 2008

Par de meias sujas em cima da mesa.

Havia uma camisa também, branca, uma calça velha e um caderno de anotações. Peguei este último para ver se tinha algo escrito. Algo importante. Quem poderia ter esquecido um caderno de anotações em cima da mesa? A mesa não era minha, não era de ninguém. Eu sabia, pois não havia nenhum nome escrito nela. A camisa, a calça velha e o par de meias sujas, também não tinham nome escrito. Mas provavelmente seriam de alguém. Provavelmente do dono, ou dona, do caderno de anotações. Era um caderno pequeno, mas não tão pequeno. Dava para escrever quinze linhas numa boa. Dezesseis se a linha do final fosse utilizada também. Então vem aquela pergunta – Para que utilizar a linha do final se no verso da folha há mais quinze linhas para serem utilizadas? Não sei. Não era algo que me interessasse muito saber. A primeira coisa que vi ao abrir o caderno de anotações foi uma poesia. Era então um caderno de poesias? Li a poesia até o final, esperava encontrar o nome do autor, mas não. Gostei muito da frase que começava na linha número oito e acabava na linha número onze, “E quando ela veio até mim, ouvi passarinhos a cantar no meu jardim. Não que eu tivesse um jardim”. A poesia tinha quatorze linhas, uma linha a menos do limite. Ou duas, se considerarmos a linha do final. No verso desta folha, primeira folha, não havia nada escrito. Havia apenas o relevo das palavras do outro lado. A caneta que as escrevera fora bem pressionada contra a folha. Olhei para o lado, a segunda folha, havia apenas duas palavras, escritas a lápis, e já meio apagadas, não consegui ler nem uma nem a outra. Apenas sabia que havia duas palavras, a primeira terminava com a letra “a”, a segunda começava com “t” ou “f”. Fui virando as folhas uma por uma, eram sessenta no final das contas, e nesta última havia um lembrete: “Colocar o par de meias sujas na máquina de lavar, pendurar a camisa num cabide e guardar no armário, jogar fora a calça velha e pegar o caderno de anotações. Obs.: Não esquecer de pegar o caderno de anotações”. As meias eram vermelhas, anotei no lembrete. Fechei o caderno e deixei-o em cima da mesa, no mesmo lugar.

5 comentários:

tay. disse...

eu continuo adorando.e eu acho que o caderno é teu.

delianne lima disse...

concordo com ela, acho que o caderno é teu.

e o teu estilo de escrita é muito adorável, dá vontade de ficar lendo a tarde toda.

L disse...

"quando ela veio até mim, ouvi passarinhos a cantar no meu jardim. Não que eu tivesse um jardim. "

ADOREI isso!!

e eu acho também que esse caderno é teu!!

Anônimo disse...

que lindo...

chegar ao fim dá vontade de começar de novo e de novo e de novo.

Flor disse...

gostei de te ler!

=)

bonito. sim.*