segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Meu cachorro morreu e eu não vi.

Estava frio lá fora, peguei um casaco que estava pendurado numa cadeira. Costumo deixar as roupas em cima das cadeiras, prezo pela praticidade. Afinal, para quê guardar as roupas no armário? Tudo bem aquelas velhas que não são usadas nunca, ou então as que são compradas para ocasiões especiais, e apenas para tais ocasiões, o que inclui comemorações. Desde aniversários chatos até natal e ano novo. Páscoa quem sabe. Missa? Para quem vai. Abri a porta de casa e saí para o jardim. Podia imaginar a neve caindo sobre mim, e um trenó lá no céu, com direito a renas e papai noel com ajudantes de papai noel e sacos cheios de presentes. Não era natal. Não dava para enxergar o céu. Havia neblina. Não havia neve. Mas é claro que não havia neve! Também não havia cachorro. Foi então que pensei - Ué. Cadê meu cachorro de estimação?, pois é. Ele não estava lá. Ele não estava lá, nem aqui, nem escondido na neblina, muito menos embaixo da neve proveniente da minha imaginação. Pensar que ele poderia estar no trenó de papai noel seria um absurdo. É claro que não pensei nisso. A este ponto já estava com uma sensação ruim. Uma sensação ruim além do frio que sentia. Não sei o que era pior, o frio ou a sensação ruim. Para parecer mais humana, diria que os dois. Desconsiderando o fato de que humanos adoram fazer comparações e achar que uma coisa vale mais que a outra. Quero ser mais humana, mas não esse tipo de humano que eu não gosto. Continuava a imaginar neve, e o meu cachorro, cadê? Chamei pelo nome dele, mas não conseguia chamá-lo muito bem. O frio não me deixava. Acho que estava congelando, foi quando eu vi um cubo de gelo. Um cubo de gelo do tamanho de um cachorro de tamanho médio. O meu cachorro era de tamanho médio. Estava com frio. Não quis chegar perto do cubo de gelo do tamanho de um cachorro de tamanho médio. Meu bom senso me disse que ficaria com mais frio. Voltei para dentro de casa, tirei o casaco, coloquei-o de volta na cadeira. Meu cachorro morreu, e eu não vi.

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